Tenho vício por pessoas e sou toda
intensidade. Isso resume a “Paula que poucos conhecem”: aquela que escreve, que
se mostra em pequenos gestos, às vezes tão discretos que passam despercebidos.
Não, “não sou fechada”. Pelo contrário, tenho prazer em ser um poço de sorrisos
para quem quer que seja. Gosto de brincar, de “mendigar abraços”, de fazer
piada... Eis a minha forma mais natural e espontânea. Mas a alma humana tem
tantas esquinas que chega a ser ingenuidade achar que no meu caso seria
diferente.
Não sou fácil de lidar, de entender,
de amar. Não sou nem um pouco fácil de conviver. Mas dentre tantos defeitos,
como o ciúme e a carência gritante – da qual não me envergonho –, encontra-se
alguém que se apaixona pelas pessoas, no sentido mais puro da palavra. Apaixona-se
por um sorriso, um gesto de confiança, um abraço, uma carta. Apaixona-se a ponto de
sentir cada célula querendo ficar perto, querendo cuidar, querendo demonstrar
que tal amor é vivo e presente a cada minuto do dia. Como eu disse,
intensidade. Como eu disse, nada fácil de entender.
Eis a epifania que me pôs a escrever.
Virei a cabeça para a esquerda e lá estava, com o sol a lhe iluminar o rosto.
Que seja visto como bobagem, mas naquele momento eu me senti viva por sentir
amor. Não que eu não soubesse que meu “coração de pedra”, adormecido para as
paixões que outrora o calaram, pudesse sentir amor fraternal. Mas ali eu o
senti, de fato, a inundar-me tal qual uma maré de ressaca, e me vi satisfeita. Não
completa, mas preenchida. Isso bastou para me fazer feliz, acordar ao lado de
quem me quer bem, agradecendo mentalmente pela amada amiga enquanto lhe acordava
com um toque nos cabelos, vestida com aquele bom e velho sorrisinho debochado.
Isso tudo me fez pensar se vale
mesmo a pena me esconder dentro de mim mesma. Já não seria hora de despir-me da
vergonha que tenho do que sinto, e viver o que escrevo? O fato é que não sei
ser de outra forma que não seja esta, onde palhaçadas revestem sentimentos. Mas
eles hão de entender. Eles, que conhecem aquela que poucos conhecem. Eles, cuja
existência me mantém sentindo o que sou, sendo o que sinto. Eles, que vivem
aquilo que vem depois do superficial. Eles, que sabem o quanto é complexo, mas
que continuam ao lado dos meus “eus”. Tanto o de dentro quanto o de fora. Pois, como diria Charles Chaplin, "cada um tem de mim exatamente aquilo que cativou".
Paula Braga.