domingo, 29 de abril de 2012

Aquela Que Poucos Conhecem

Tenho vício por pessoas e sou toda intensidade. Isso resume a “Paula que poucos conhecem”: aquela que escreve, que se mostra em pequenos gestos, às vezes tão discretos que passam despercebidos. Não, “não sou fechada”. Pelo contrário, tenho prazer em ser um poço de sorrisos para quem quer que seja. Gosto de brincar, de “mendigar abraços”, de fazer piada... Eis a minha forma mais natural e espontânea. Mas a alma humana tem tantas esquinas que chega a ser ingenuidade achar que no meu caso seria diferente.
Não sou fácil de lidar, de entender, de amar. Não sou nem um pouco fácil de conviver. Mas dentre tantos defeitos, como o ciúme e a carência gritante – da qual não me envergonho –, encontra-se alguém que se apaixona pelas pessoas, no sentido mais puro da palavra. Apaixona-se por um sorriso, um gesto de confiança, um abraço, uma carta. Apaixona-se a ponto de sentir cada célula querendo ficar perto, querendo cuidar, querendo demonstrar que tal amor é vivo e presente a cada minuto do dia. Como eu disse, intensidade. Como eu disse, nada fácil de entender.
Eis a epifania que me pôs a escrever. Virei a cabeça para a esquerda e lá estava, com o sol a lhe iluminar o rosto. Que seja visto como bobagem, mas naquele momento eu me senti viva por sentir amor. Não que eu não soubesse que meu “coração de pedra”, adormecido para as paixões que outrora o calaram, pudesse sentir amor fraternal. Mas ali eu o senti, de fato, a inundar-me tal qual uma maré de ressaca, e me vi satisfeita. Não completa, mas preenchida. Isso bastou para me fazer feliz, acordar ao lado de quem me quer bem, agradecendo mentalmente pela amada amiga enquanto lhe acordava com um toque nos cabelos, vestida com aquele bom e velho sorrisinho debochado.
Isso tudo me fez pensar se vale mesmo a pena me esconder dentro de mim mesma. Já não seria hora de despir-me da vergonha que tenho do que sinto, e viver o que escrevo? O fato é que não sei ser de outra forma que não seja esta, onde palhaçadas revestem sentimentos. Mas eles hão de entender. Eles, que conhecem aquela que poucos conhecem. Eles, cuja existência me mantém sentindo o que sou, sendo o que sinto. Eles, que vivem aquilo que vem depois do superficial. Eles, que sabem o quanto é complexo, mas que continuam ao lado dos meus “eus”. Tanto o de dentro quanto o de fora. Pois, como diria Charles Chaplin, "cada um tem de mim exatamente aquilo que cativou".
Paula Braga.