Eu lembro a
primeira vez que você me deixou sem ar.
Naquele
balcão imundo apinhado de gente ébria eu me propunha, com pouco sucesso, a
pedir uma água. Algo na embriaguez me fez lembrar de ti banalmente, nossos dois
ou três olhares cruzados, e o pensamento foi interrompido pela tua chegada, casual e inesperada, ao meu lado, o ar leve e sorridente de tão pouco sóbrio.
Eu perdi o ar
pela primeira vez ali
Sorrindo de
volta pra ti
Porque
ninguém deveria parecer assim tão bonito ao outro
(foi quando eu
primeiro te quis).
Eu lembro,
também, a segunda vez que você me deixou sem ar.
Foi quando eu
acordei numa manhã seguinte repensando cada segundo da noite anterior e tinha
você, um livreto da Lana Del Rey, um e outro São Braz... E então tínhamos nós e uma porção de lembranças que me roubaram o
fôlego
Porque pela
primeira vez
Num punhado de
anos
Eu queria
mais de alguém
(foi quando eu
soube que te queria tanto).
Eu lembro,
ainda, a terceira vez que você me deixou sem ar.
A famigerada
noite de duas luas, de mar tranquilo, de estrela cadente e coração aquecido –
até hoje não se sabe quantas vezes eu consegui perder o fôlego num intervalo de
tempo tão curto. E, bem, você sabe o que eu pedi à tal estrela...
Eu pedi você
E tive
Eu só não
pedi que nosso tempo fosse assim tão contado
(porque foi
quando eu me apaixonei por ti).
Eu perdi o
fôlego mais uma série de vezes, com cada sarda descoberta, com cada vez que eu
pude segurar a tua mão em paz, com nossas despedidas mais ou menos dolorosas,
com nossos retornos mais ou menos dramáticos, com os nossos planos de volta ao
mundo (até pros EUA eu aceitei viajar, veja só), com nossos sonos
compartilhados, com cada vez que eu planejei algo com tanto carinho pra ti
Mas que não
pôde se realizar
Porque eu perdi
o fôlego uma última vez
(e foi quando
eu soube que tinha acabado).
Agora, presa
nessa apneia, eu tento romper o torpor e entender como a gente chegou a esse
ponto de tanto se sufocar. De não saber se separar, tampouco ficar junto. Ou
como nós transformamos nossos abraços demorados em soluços interruptos,
desesperados por não saber. Por não conseguir. Mas o que precisávamos
conseguir, afinal? Onde esperávamos chegar, que acabou por sacrificar o nosso
percurso antes tão... Simples? O que deixamos que nos esmagasse? E o que tanto
deixamos por fazer, sentir e dizer?
Eu me sinto tragada por todas essas
perguntas com uma angústia muda e imóvel, e até certa exaustão, como quem
morre afogado na praia depois de tanto nadar.
Bravo esforço
Mas onde
chegamos mesmo?
Já que eu não
sabia muito bem como me salvar
E o amor não é para
os que prendem o fôlego e se jogam imprudentes em mar aberto, afinal.
Paula Braga.