segunda-feira, 25 de julho de 2011

Fragmentos

O fato é que nos acostumamos a sofrer por “amor”. É aceitável que algumas memórias nos venham à mente involuntariamente, mas viciar-se ou não em viver do passado, desculpe-me a sinceridade, é uma escolha.
Eu escolhi seguir adiante.
Depois de remoer incontáveis vezes sobre os motivos de tal injustiça e dolorosa separação, coloquei a cabeça no presente e me vi num tempo bem melhor. Parecíamos “perfeitos” juntos, e somente a dois, mas hoje eu encontro pedaços de perfeição em diversos detalhes que conquistei, veja que irônico, quando fui deixada pela metade.
Se antes o seu sorriso bastava para a minha felicidade, hoje eu encontro satisfação em incontáveis e amados risos, os quais eu tenho a certeza de que sempre estarão ali para iluminar meu dia.
Em suma, um coração estilhaçado usa cada pedaço para multiplicar amor. Aprendi que um sentimento exclusivista é ilusão, e que é bem mais satisfatório distribuir carinho do que canalizá-lo a uma só pessoa.
Eu tenho um coração em pedaços, sim. Ainda. E o meu maior orgulho é amar intensamente com cada fragmento dele.

Paula Braga.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Enlace

"Os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace." - Victor Hugo
Abraço-te, envolvo-te, protejo-te como se pudesse, num só gesto, esconder-te do mundo. Fazer-te de novo criança, e deixar ao menos uma fração daquela velha inocência tocar essa alma já tão vivida quanto calejada.
Muitos quiseram me mostrar o mundo, e de certa forma o fizeram. Deixaram suas marcas em mim, tanto em forma de aprendizado quanto de lembranças. Apenas os poucos que abriram o coração aos meus cuidados, porém, conhecem-me de verdade e sabem o quanto é sincero e zeloso o meu afeto mais puro.
Você não é exceção. Eu enxergo além dessa capa madura, e consigo ver a sua essência de aprendiz da vida. Sinto o quanto você tem temores, carências, defeitos e outras tantas "fraquezas" que o mundo lá fora não perdoa. Mas o nosso “mundinho paralelo” aceita as impossibilidades que só o amor explica, e é neste que eu vivo quando quero te proteger da ferocidade da vida real.
Aquele papo de “anjo” já está um tanto batido, então direi apenas que, quando tudo parecer perdido, eu estarei lá para lhe proteger. Sem cobranças ou apelos, como uma espécie de “saída de emergência” para garantir a sua segurança emocional quando algo lhe afligir.
Eu te solto do meu abraço a duras penas, já sentindo a iminência da falta que você me faz. Em antítese ao meu íntimo, não me demoro na despedida, mas dou vazão ao receio com uma única súplica:
“Cuide-se.”

Paula Braga.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Saudade

“Isso está me matando.”
Ela estava à beira da piscina, sentindo um abandono que não tinha explicação lógica. Por que deixara a situação chegar àquele ponto? Por que se deixara cativar de maneira tão intensa? Mas já não se via sem a certeza de que alguém, mesmo distante, estava “ali”. Não sabia viver sequer sem a saudade, sufocante, dolorosa, mas sempre presente. Um lembrete de que eram reais, todos os juramentos, segredos e sentimentos.
Mas isso era o de sempre. Essa saudade infinita a acompanhava em cada respiração. Já estava acostumada a amar a ausência, para ter o que amar mesmo nas horas mais solitárias. Ater-se às poucas lembranças sólidas, e às infinitas abstratas. O que não julgava lógico era ainda sentir nos seus braços o calor daquele abraço, tão raro quanto desejado, e ter de lutar contra a tristeza que lhe tomava com a força de um canhão.
O desespero lhe subiu à cabeça. Tiveram tanto tempo para se conhecer, e, no entanto... Quantas vezes se viram sem se ver?  Dúvidas, angústias, impotência... Saudade. É, talvez a ausência não fosse tão fácil assim de se aceitar.
Ela tirou o celular do bolso e enviou uma mensagem, que tentava mostrar pelo menos um décimo do que estava sentindo. Encarou a superfície calma da piscina enquanto refletia sobre o que havia dito, e sobre tudo o mais que queria dizer. Não esperava resposta, como nunca havia esperado. E a resposta tampouco chegaria. Mas sabia que, em algum lugar não muito longe dali, um celular havia vibrado e alguém havia se emocionado com a verdade por trás daquelas poucas palavras.

Paula Braga.