segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Cicatrizes


Altos e baixos, eis a minha rotina. Num minuto sou mel, e no segundo seguinte me faço amargo espinho. Doação e decepção me são tão intrínsecas quanto os dois lados de uma moeda, e alicerçam a frequente dualidade daquela que vos escreve.
Que tipo de amor é esse, que não sabe se inibir? Aflora em horas erradas, de maneiras erradas e por pessoas erradas. Expõe-se, desnuda-se, rasga-se sem pudor diante daqueles que, de alguma forma, despertam-no. E quando dou por mim, vejo-me cheia de feridas tão profundas quanto, aparentemente, inexplicáveis.
Detalhes. Firo-me com detalhes, e é essa a pior parte, pois quase sempre só eu os enxergo. Por vezes incompreendida, fecho-me e aceito os rótulos de “sensível” e “exagerada”. Nessas horas, foco e outros amores, cujas marcas, mesmo que momentaneamente, encontram-se amenizadas. Amor curando amor, preenchendo vazios e sarando feridas. Sem anestesia.
E curam. Uma hora, saram. Estamos falando de amor, não é? E amores não morrem tão facilmente. Podem esvair-se aos poucos, cheios de cicatrizes, mas não de imediato. No meu caso, porém, eles crescem. Tornam-se fortes, tornam-me forte, e crescem. Até que se fazem árvores fortemente enraizadas no solo do meu peito; de base tortuosa, sim, mas de copa tão frondosa que chega a tocar o céu.

Paula Braga.

domingo, 11 de setembro de 2011

Bodas de Papel

Um ano. Não é exagero dizer que “parece que foi ontem” que postei pela primeira vez. Sem ambições ou perspectivas, criei o “Quando a Lua Chora” em uma noite de ócio aparentemente normal, depois de várias insistências de um certo amigo (ao qual, por sinal, tenho muito a agradecer).
Sendo assim, nada mais justo do que começar agradecendo a esse amigo. Eduardo Mulato, 18 anos, blogueiro de talento invejável. Obrigada pelo pontapé inicial, por ter me estimulado a criar aquilo que hoje é meu escape e orgulho, e por acompanhar minha evolução durante esses 365 dias com olhos de crítico. Sua opinião sempre será importante, bem como o seu papel na minha jornada de aprendiz de escritora.
Outros dois homens importantes nessa jornada são Victor Garcia e Ítalo Boaventura. O primeiro corrigiu inúmeros textos, ajudou-me a escolher fotos e títulos, e, acima de tudo, tratou-me como realmente uma escritora em potencial, não poupando críticas e correções. Nunca terei palavras suficientes para agradecer pela paciência e pelo companheirismo dedicados a essa menina insegura.
Já o segundo, meu querido “IB”, age como meu publicitário. Quantas noites já viramos juntos, arquitetando o futuro do blog... Você me estimula a seguir, mostra meu talento quando eu penso em desistir, e é declaradamente o meu “fã número um”.
Queria agradecer também àqueles que já tiveram a oportunidade (seja ela considerada boa ou não) de ler um texto em primeira mão, fosse ele rabiscado numa folha de caderno ou um rascunho do Word. Que opinaram, discutiram e me ajudaram a evoluir ao longo desse tempo.
Voltando ao simbolismo da data, falemos da obra em si. O primeiro texto, “Cair”, talvez seja o de história mais curiosa. Nasceu bem antes da ideia do blog, como uma tentativa de explicar para uma amiga o que se passava no meu coração (outrora partido). Tive de contar uma história a partir de sua raiz e concluí-la com a dor do fim, para que ela pudesse compreender o que de fato se passava em mim. Até então nunca tinha escrito um texto com essa finalidade, e, a partir daí, passei a me usar da palavra escrita como um escape.
Os textos seguintes trouxeram, quando não várias, ao menos uma pessoa nas entrelinhas. E não falo só de um coração partido que tanto já escreveu para o mesmo algoz, mas de uma capacidade de se doar para as amizades. Ouso dizer que todos os meus textos são de amor, mas que poucos deles são carnais. Trago aqui uma poética sofrida, sim, mas apaixonada por aqueles que despertaram o meu coração para o valor da amizade.
Acompanhada ou não de lágrimas, já escrevi diretamente para as minhas doces Bruna Lobato, Alana Cortez, Andressa Frota e Yasmim Ribeiro. E indiretamente para Milena Scur, Thaís Brito, Stefanny Matos, Vitória Bessa, Beatriz Queiroz, Thaís Lopes, Melyssa Sampaio, Florence Façanha, Samara Amoras, Eduardo Mulato, Ítalo Boaventura e tantos outros amados (vide “Aos Meus Queridos”). A vocês, o meu sincero agradecimento. Não por simplesmente estarem na minha vida, mas por deixarem marcas profundas nela.
E, finalmente, queria agradecer a todos que já leram, comentaram, divulgaram, curtiram a página no facebook ou simplesmente tiveram a curiosidade de saber do que fala esse link que eu tanto divulgo. Já fui criticada por tal exposição, e tenho certeza de que as críticas nunca acabarão. Mas tenho orgulho de, há 365 dias, vir rasgando meus sentimentos em palavras afim de amenizar não só a minha dor, mas também a dor daqueles que, como eu, têm mania de amar.
Há um ano não nascia um escritora; não tenho a pretensão de me auto-denominar assim. Nascia um espaço no qual sentimentos próprios se misturam a alheios, onde alguns buscam conforto, outros defeitos, e outros simplesmente tentam entender a mentalidade da autora.

Feliz Aniversário, Quando a Lua Chora. E que venha mais um ano!


domingo, 4 de setembro de 2011

Chão

Carne e alma fundidas me ofuscam os sentidos. A sensibilidade, sempre tão à flor da pele, escondeu-se nas profundezas do íntimo. De tanto negar a mim mesma tal tendência a amar, acabei por adormecer as emoções a ponto de, por vezes, precisar revirá-las conscientemente.
Tal dormência me dá certo asco. Como posso ser fria, se sempre abominei quem reprimia os sentimentos? Hipocrisia involuntária. O tempo me mostrou (e ainda mostra) que o “tanto faz” evita dor. Escudos invisíveis bloqueiam oportunidades, mas amortecem desilusões. A racionalidade me impede vôos desvairados, puxa-me para o real. Mas quem disse que o real é belo? Chega a ser áspero, frio, sem vida. Fácil. Cômodo. Sem emoção.
Assim, permiti-me um vôo. Um só. Apenas um vislumbre de céu, uma fresta no escudo, uma ínfima esperança de aquecer um coração. Jogada fora. Caí em queda-livre, de asas cortadas e ilusões perdidas. O baque me trouxe ao real. O chão era o fim. Rastejei em meio às dores, ajoelhei, levantei. Encarei as feridas, engoli o choro e não mais lamentei.
Fitei o céu ao longe e amargurei triste sorte. Inalcançável. Cansara de tentar. E, com os pés firmes no chão, segui o caminho tortuoso daqueles que não sabem amar.


Paula Braga.