segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Príncipe Encantado


Então ela bate o pé e decide que cansou de esperar por um príncipe encantado, daqueles que aparecem num cavalo branco trazendo consigo tudo aquilo que ela buscou em tantos outros. “Eles não existem”, repetiu para si mesma, para se convencer. É impossível, ninguém é perfeito...
Mas, quando parou para analisar a ultrapassada concepção de príncipe encantado, deparou-se com seu passado. Não, ele não era nem de longe encantado, mas de que importava? Quem precisava de um castelo quando ela o tinha bem ali, ao seu lado? Deu-se conta de que não era um príncipe que queria, e sim "ele", com todos os seus defeitos. Era mesmo necessário que ele provasse o seu amor defendo-a de um dragão, se no fim do dia era ele quem entendia as suas dores de “menina moderna”? Tinha seus encantos, isso era inegável, mas não deixava de ser um homem de carne e osso, e coração.
E ela o amava tanto... Amava o cabelo despenteado, a expressão brincalhona, o sorriso aberto. Amava como ele se interessava pela sua vida, mesmo que nos ínfimos detalhes, e como fazia questão de lhe dizer o que se passava na dele também. Amava as dúvidas acadêmicas, as ligações na madrugada, a aflição quando as coisas não iam bem. Amava até o modo como ficava distante quando passava por algum problema, numa tentativa de poupá-la, mesmo que fosse em vão, já que ela não o deixaria passar por aquilo sozinho.
No fim, ela amava todos os “defeitos” com tamanha intensidade, que achava impossível ter cogitado querer um príncipe encantado, com toda aquela perfeição. E foi então que se deu conta de que precisava querer um príncipe, sim, para não querer de novo o amado imperfeito que se fora.

Paula Braga.

sábado, 8 de outubro de 2011

Fuga

Então eu me canso, escondo-me, fujo de ti como um dependente fugindo do vício. Coloco milhões de defeitos seus na minha cabeça, mesmo sabendo que metade deles é mentira, e a outra metade eu amo quase tanto quanto as qualidades. Não lhe procuro, mesmo que todas as minhas forças peçam o contrário, pois o meu coração precisa de um tempo.
Fecho-me em silêncio e fico a te observar, de um jeito masoquista, tocando a vida em frente. Até quando vai ignorar essa situação? É impossível que você não sinta a minha ausência... Ou será que não? A raiva cresce com as dúvidas e eu me guardo em rancor. Vou me agarrando a qualquer motivo plausível que justifique a minha decisão de ficar longe.
Viro-me de costas e fecho os ouvidos pra não ouvir o ruído da sua rotina que, ao contrário da minha, segue normalmente. Forço um caminho contrário ao seu, como se não me importasse, mas espio por cima dos ombros a sua ingrata felicidade. Com os punhos cerrados, ensaio voltar somente para lhe dizer os meus motivos para ir, mas vejo que não faz diferença: você me deixará partir. Como todos os outros, você me deixará ir sem sequer saber a causa.
Dessa vez, porém, estou fugindo para justificar minha saudade. Quero distância para explicar a mim mesma o fato de eu querer sentir falta do seu sorriso depois de cinco minutos sem te ver, ao invés de sentir a ausência do teu abraço perdido há meses, sem expectativa de retorno. Quero ter histórias vividas ao invés de históricos no computador. Quero olhos-nos-olhos, cabeça no ombro, sorriso cúmplice. Quero conhecer todas as suas feições, seus trejeitos e suas expressões. Quero dormir com sua voz na cabeça. E, acima de tudo, quero ter saudade do que tenho de fato, não do que finge ser meu.

Paula Braga.