sábado, 8 de outubro de 2011

Fuga

Então eu me canso, escondo-me, fujo de ti como um dependente fugindo do vício. Coloco milhões de defeitos seus na minha cabeça, mesmo sabendo que metade deles é mentira, e a outra metade eu amo quase tanto quanto as qualidades. Não lhe procuro, mesmo que todas as minhas forças peçam o contrário, pois o meu coração precisa de um tempo.
Fecho-me em silêncio e fico a te observar, de um jeito masoquista, tocando a vida em frente. Até quando vai ignorar essa situação? É impossível que você não sinta a minha ausência... Ou será que não? A raiva cresce com as dúvidas e eu me guardo em rancor. Vou me agarrando a qualquer motivo plausível que justifique a minha decisão de ficar longe.
Viro-me de costas e fecho os ouvidos pra não ouvir o ruído da sua rotina que, ao contrário da minha, segue normalmente. Forço um caminho contrário ao seu, como se não me importasse, mas espio por cima dos ombros a sua ingrata felicidade. Com os punhos cerrados, ensaio voltar somente para lhe dizer os meus motivos para ir, mas vejo que não faz diferença: você me deixará partir. Como todos os outros, você me deixará ir sem sequer saber a causa.
Dessa vez, porém, estou fugindo para justificar minha saudade. Quero distância para explicar a mim mesma o fato de eu querer sentir falta do seu sorriso depois de cinco minutos sem te ver, ao invés de sentir a ausência do teu abraço perdido há meses, sem expectativa de retorno. Quero ter histórias vividas ao invés de históricos no computador. Quero olhos-nos-olhos, cabeça no ombro, sorriso cúmplice. Quero conhecer todas as suas feições, seus trejeitos e suas expressões. Quero dormir com sua voz na cabeça. E, acima de tudo, quero ter saudade do que tenho de fato, não do que finge ser meu.

Paula Braga.

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