quarta-feira, 11 de março de 2015

O dia em que eu deixei Sainté

Segunda-feira, 9 de março de 2015.

“Mas por que Saint-Etienne?”
Eu nunca tinha sequer ouvido falar nessa cidadezinha nos Alpes franceses até saber que, em pouco mais de um mês, eu lá desembarcaria arrastando duas malas, vestindo uma cara completamente perdida e carregando um coração cheio de expectativas. 
Não, não fui eu que escolhi Sainté.
Foi ela quem me escolheu.
Quem já se sentiu verdadeiramente em casa desembarcando na Châteaucreux tem certeza que morou/mora na melhor cidade da França, com a (e justamente pela) família mais incrível que o CSF poderia nos permitir construir. Que me perdoem os outros, mas o meu bonde fez história nessa Europa.
Hoje, arrastando as malas por essas ruas, sozinha como no dia em que cheguei e mais uma vez caindo de cabeça na mudança de vida, eu não poderia me sentir mais grata por cada um dos 240 dias que eu vivi aqui com vocês, a nossa família, nesse pedacinho de eternidade que nós fizemos questão de escrever com tanta intensidade.
“Mas por que Saint-Etienne?”
Por quem me acolheu quando eu cheguei tão perdida.
Por quem largou a preguiça e foi beber na casa da “novata”.
Por quem topou saltar de 182m de altura.
Por quem se vestiu comigo do brega ao haloween.
Por quem teve a "brilhante" ideia de velejar sem vento depois de “alguns” vinhos.
Por quem me puxou da água quando essa ideia deu errado.
Por quem garantiu as melhores festas (sobretudo quem foi resolver com a polícia).
Por quem correu de lingerie nos corredores do Les Estudines.
Por quem colocou 12 despertadores pra eu não perder uma prova.
Por quem passou 3h comigo no hospital.
Por quem dividiu o chuveiro, o colchão, a escova de dente e a vida.
Por quem cozinhou pra mim, sobretudo doente.
Por quem cantou e dançou comigo.
Por quem compartilhou o vinho, a comida e tantas outras coisas.
Por quem adotou o colar do beijo pra vida.
Por quem andou no meu patinete.
Por quem beijou a Benga.
Por quem me beijou (rs).
Por quem rolou comigo na linha do trem.
Por quem me deu bronca.
Por quem me pôs pra dormir.
Por quem me arrancou da cama.
Por quem enxugou minhas (tantas) lágrimas.
Por quem chorou comigo.
E, sobretudo... Por quem tanto me fez sorrir.
“Mas por que Saint-Etienne?”
Talvez eu nunca saiba o porquê.
Mas eu sempre saberei por quem.

Com amor, e já tanta saudade,
Paula Braga.

ps: a vocês, que me mostraram que, quando você está destruída em mil pedaços, é possível fazer cada um deles amar como se fosse inteiro.