sexta-feira, 17 de maio de 2013

Passarinho


Certa feita, eu conheci um passarinho.
Era singelo, de canto doce e manso, e tinha um quê de leveza em cada bater de asas. Encontrei-o perdido numa manhã invernal, a penugem desbotada, o céu anunciando uma tempestade iminente. Ele pousou tímido, mas confiante, em minha mão, e eu, mesmo desajeitada como quem não sabe cuidar, dei-lhe caloroso abrigo.
Veio e foi-se a tempestade, mas seu bater de asas continuou a me circundar, e não houve um dia sequer, desde então, que o passarinho não me encantasse com seu canto. Sim, foram os tempos mais doces que eu tive a sorte de desfrutar, vendo-o ali, voando sobre mim, pousando vez ou outra em meu dedo para me envolver em sua ternura. Fria seria a criatura que ousasse não amar tal pequenina fonte do sublime.
Mas era silvestre, o meu passarinho, e ninho algum que eu lhe desse seria capaz de fazê-lo realmente feliz. Vendo-o querer partir, invejei cada árvore que o veria passar, cada galho onde iria pousar, cada flor que o poderia ouvir quando eu não pudesse mais. Invejei até mesmo o céu, infinito que ele tanto almejava ganhar. Para o meu passarinho fui abrigo, não lar, e foi amando-o mais do que nunca que eu o vi partir.
O canto doce, contudo, continua aqui, a embalar-me os dias descoloridos e saudosos. Quem sabe um dia ainda ganho os céus como ele fez, quem sabe os seus voos sintam falta de onde pousar. Espero que a liberdade o tenha feito feliz, meu passarinho, mas não o tenha feito esquecer para onde pode sempre voltar.

Paula Braga.

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