terça-feira, 7 de abril de 2015

Abraços, bolos e almas tocadas

“Não solta, não solta, não solta...”
Mas, enquanto pensava isso, eu mesma soltei.
Eu ainda elevo minha alma ao limite da pele quando te abraço, embora hoje comedida, como se fosse possível ultrapassar os cinco sentidos; a surpresa foi sentir a tua alma encostando na minha de volta. Recuei, tomada por uma familiaridade inusitada, como quem passa de súbito em frente à casa onde cresceu, seguida por um misto de nostalgia e curiosidade, fato comum de quando os meus olhos procuram os teus nesses novos tempos onde nós tomamos nitidamente dois cursos de vida, e que não fazemos ideia de como voltarão a se cruzar.
Você me parece hoje um mistério pintado pelo que tenho perdido dos teus detalhes cotidianos emoldurando formas que eu conheço tão a fundo. Mas, se meu bolo preferido me fosse dado com uma cobertura diferente, teria eu medo de provar? Perderia eu a chance de experimentar um novo ainda melhor, e assim aprender a buscar bolos diferentes que poderiam ser tão bons quanto? O seu mistério não me entristece mais, pelo contrário: ele me instiga a ponto de me fazer questionar todos os meus sabores.
E foi nessa busca que eu soltei o teu abraço, mesmo querendo ficar a vida inteira. Ainda é um bolo incrível, mas quantas coberturas diferentes se há por provar? Será que a velha, outrora preferida, adequar-se-ia aos meus novos gostos? E, sobretudo, será que esse bolo ainda pode mesmo ser para mim?
Quando eu senti a tua alma me tocando de volta eu obtive a resposta para esta última, mas foi pelas tantas outras que eu te soltei: para sentir por mim mesma a vontade de conhecer todos os sabores possíveis junto à certeza de que, no fundo, a essência do gosto preferido permanece imutável.

Paula Braga.

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