segunda-feira, 25 de abril de 2011

Devaneio

Quase sem querer, mais uma vez ponho-me a devanear com sua presença. Em meio a multidões que muitas vezes te cercam, infiltro-me e te observo de longe. Lembranças me tomam a cabeça, e deixo-me reviver o tempo em que sua silhueta se moldava à minha, sem preocupação; de quando seu pensamento era meu e não havia culpa em nossas mãos.
Com um arrepio de choque, seu olhar encontra ao meu. Percebo sua hesitação, sua culpa, seu medo. Entre nós, todo esse tempo de separação, e uma infinidade de incidentes que quase mataram um amor. Quase.
A estática do desconhecido nos envolve. O que você faria se eu arriscasse um sorriso? Se eu me aproximasse? E se eu segurasse a sua mão e lhe confessasse que o meu amor mais sincero sempre foi seu? O medo me mantém presa ao chão, congelando minhas ações enquanto instiga meus sentimentos. 
E ao longe, você. Imóvel, como que me avaliando. Estaria pensando o mesmo que eu? Provavelmente não. Você tem seus motivos para se manter distante, enquanto eu me atenho aos meus para me conservar fechada. É assim que tem sido, a isso nos acostumamos. 
Num assomo de coragem, porém, resolvi que era hora de dar um capítulo diferente ao nosso enredo. Esbocei um sorriso contido, e avancei em sua direção. Sem avaliar a sua reação, por receio de fraquejar, mantive o passo firme e ritmado. Cheguei mais perto do que há muito não ousara chegar. Estudei seu rosto, me deliciei com seu sorriso aliviado, e me revigorei.
Avancei mais um pouco, e deslizei a minha mão em busca da sua. Nossos dedos se entrelaçaram, enquanto eu sentia sua respiração no meu cabelo. Aspirei o cheiro da sua nuca, e sussurrei ao pé do teu ouvido o sopro mais puro do meu coração:
“Eu sempre te quis.”

Paula Braga.

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