Estava frio, e essa era a única
constatação física de que ela tinha ciência. Talvez porque a frieza lhe vinha
dentro, tornando tanto as manhãs quantos as noites gélidas e iguais, e nem
mesmo o mais sensato “eu tentei” lhe consolava. O fato é que estava frio, e ela
tremia.
A frieza, porém, não lhe era
natural. Pelo contrário, era tão rara que chegava a lhe parecer alheia. Mas
depois do desejo constante de querer gritar, espernear, berrar e chorar feito
um bebê mimado para não ter que perder, lentamente, aquilo que vinha perdendo,
só lhe restara a frieza da ausência. A batalha perdida. As promessas jogadas
fora. E todo um mundo de desilusões como rajadas de vento frio a lhe congelar.
“Mais uma desvantagem da
desistência,” ela pensou, com um ar irônico por se ver contrariando uma das
suas mais fortes características: a persistência, “essa ânsia por mais
tentativas”. Mas após o calor da luta poderia vir tanto a glória quanto a
derrota, certo? Ela entrou na batalha de peito estufado, de grito de guerra
retumbante e de sólidas apostas, mas se viu obrigada a baixar a guarda e
aceitar o desfecho, que já havia sido traçado há muito pelas mãos da sua
própria bandeira, aquilo que vinha defendendo sem saber que poderia não valer a pena o esforço.
E por fim, a frieza da perda, o
toque de retirada. Se faltaram armas ou guerreiros ela não soube, mas pagou um
alto preço por ter insistido numa batalha há tempos perdida. Preço este que ainda
pagaria por um bom tempo, pelo menos enquanto as lembranças insistissem em lhe
voltar à tona com a mesma freqüência do anoitecer. E quando uma dessas lembranças
se insinuou para ela, tomou-lhe a mente um pensamento julgado insano:
“Eu tentaria de novo.”
Outro arrepio gélido lhe percorreu
o corpo. Ela tremeu.
Paula Braga.
De verdade, eu me vi nesse texto.
ResponderExcluirP.s: até mesmo quando uma batalha parece (e é) perdida, somos nós, que não desistimos, as vencedoras. E eu sei que nós tentaríamos de novo. Por isso eu tomo muito cuidado com o que eu ainda sinto.