segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Pele

O acaso sempre dava um jeito de pô-los novamente juntos. Assustadoramente iguais, procuravam-se quase que por reflexo. Uma mensagem aleatória, uma ligação espontânea, uma vontade qualquer eram o suficiente para colocá-los outra vez nos braços um do outro, sem prudência ou perspectiva.
Ele não disfarçava suas intenções, ela não o desencorajava. Ele mordia o lábio, ela não escondia o arrepio. Ele investia, ela não se esquivava. Longe dos olhares de censura, seguiam sua natureza humana como uma espécie de afronta à rotina, às convenções, aos relacionamentos comuns. Queriam-se sem se pertencerem. Tinham-se sem se cobrarem. Amavam-se sem se amarem.
Toda essa naturalidade, porém, tinha prazo de validade. Talvez ela se apaixonasse e fosse viver uma história de amor com um terceiro; talvez ele cansasse daquela incerteza; ou talvez eles simplesmente decidissem que passaram dos limites. O fato é que jamais saberiam previamente quando seria a última vez que se encontrariam, pois seus instintos estavam conectados, de modo que, quando a solidão apertasse, eles invariavelmente se buscariam sedentos de familiaridade.
Enquanto o “talvez” não os afastava, contudo, iam alimentando o que tinham sem sequer mencionar o futuro. Somente pele, vontade e uma pitada de malícia.

Paula Braga.



3 comentários:

  1. quanta incerteza, não? esse amor meio louco. já vivi coisas assim. contudo prefiro a certeza do hoje! aventuras são maravilhosas e inesquecíveis, mas chega um momento que cansa.

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  2. Caramba, Paula... Fiquei sem palavras diante desse texto...

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  3. eu to encantada.. essa é a minha descriçao..

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