terça-feira, 18 de setembro de 2012

Partida

Parti o laço ao invés de afrouxar o nó. Soltei a mão que tanto me sustentara ao invés de diminuir o aperto. Larguei a cadeira de rodas antes que minhas pernas pudessem sustentar tanto peso, ou mesmo os braços tivessem força para segurar muletas. Em benefício alheio, abri mão do que outrora não suportaria pensar viver sem, por ter se tornado necessário privar a sanidade alheia daquilo que nem eu mesma consigo suportar. Esse “Circo do Terror” não precisa de expectadores.
O conflito me atormenta, ainda que a decisão já tenha sido tomada. Tão difícil quanto partir de quem se ama é manter-se erguida e sustentar a situação, dia após dia, falta após falta. Quem disse que o tempo cura, por favor, venha aqui dizer para as dezenas de marcas que me rasgam a alma toda noite, pois elas insistem em não me ouvir (aproveita e me traz uns analgésicos). Não, não é o tempo que cura, mas sim o gelo que se apodera dos corações flagelados. E eu já posso senti-lo a se aproximar...
Veja bem, meu bem: eu, por nós, largaria esse inferno e viveria sob tão amado cuidado. Trago, porém, o monstro circulando em minhas veias como um vírus, e por esse vírus sou obrigada a partir. Obrigada a deixar-te. Acredite, dói duas vezes mais aqui, mas a dor já me é familiar. Deixemos que ela fique comigo, por completo, para poupar-lhe de cicatrizes tão profundas quanto as que, desesperadamente, apresentei-lhe. Já eu... Livrar-me-ei de todas as dores e mágoas, no meu tempo e do meu jeito, para que o inferno que nos afasta tenha fim. Esperando que possamos ser novamente apenas almas entrelaçadas, partirei uma última vez.

Paula Braga.

Um comentário:

  1. Sem palavras... Eu não sei nem o que comentar. Acho que vou me distrair com coisas fúteis para bolar um cometário bom o suficiente. :)

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