sábado, 2 de maio de 2015

Nota Sobre Caminhadas Silenciosas


Estava voltando sozinha para casa, o que virara fato comum. Aprendera a gostar da caminhada silenciosa do retorno, e agradecia silenciosamente a um GPS que funcionava em qualquer circunstância. Agora não estava mais tão frio, e era prazeroso o seu novo costume de caminhar pelas ruas à noite fugindo daquele caos que, por vezes, não lhe pertencia mais. Animava-lhe a ideia de chegar em casa, tomar um banho demorado, vestir o pijama e dormir bem. Os novos pequenos prazeres que descobrira ao aprender a se respeitar.
Achava que essa paz, que já buscara tantas vezes para a cura de suas loucuras particulares, vinha do mundo, do que ela conseguia absorver desse universo que, afinal, conspirava tanto para o seu bem (e disso ela não tinha do que reclamar). Essa paz libertadora que de tantos infernos a tinha livrado. Mas a verdadeira calmaria encontrava-se no fundo daquele coração que ela oferecia insistente a tantos, mas que pertencia sobretudo a ela. E era o que de melhor tinha.
Foi maravilhoso descobrir que não pertencia a ninguém mais do que a ela própria.
E foi o melhor presente que poderia ter-se dado.
Hoje, parece menos alegre; tremendo erro do espectador. Enxerga a felicidade de maneiras diferentes, e ainda assim transmite a sua alegria de dentro para fora – não mais o contrário. Ama ainda mais o mundo, mesmo que pareça numa voltagem menor. A alegria se multiplicou uma vez que boa parte pertence, agora, também a ela.

Paula Braga.

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