Estava voltando sozinha para casa, o que virara fato comum.
Aprendera a gostar da caminhada silenciosa do retorno, e agradecia
silenciosamente a um GPS que funcionava em qualquer circunstância. Agora não
estava mais tão frio, e era prazeroso o seu novo costume de caminhar pelas ruas
à noite fugindo daquele caos que, por vezes, não lhe pertencia mais.
Animava-lhe a ideia de chegar em casa, tomar um banho demorado, vestir o pijama
e dormir bem. Os novos pequenos prazeres que descobrira ao aprender a se respeitar.
Achava que essa paz, que já buscara tantas vezes para a cura
de suas loucuras particulares, vinha do mundo, do que ela conseguia absorver
desse universo que, afinal, conspirava tanto para o seu bem (e disso ela não tinha
do que reclamar). Essa paz libertadora que de tantos infernos a tinha livrado. Mas
a verdadeira calmaria encontrava-se no fundo daquele coração que ela oferecia
insistente a tantos, mas que pertencia sobretudo a ela. E era o que de melhor
tinha.
Foi maravilhoso descobrir que não pertencia a ninguém mais do
que a ela própria.
E foi o melhor presente que poderia ter-se dado.
Hoje, parece menos alegre; tremendo erro do
espectador. Enxerga a felicidade de maneiras diferentes, e ainda assim
transmite a sua alegria de dentro para fora – não mais o contrário. Ama ainda
mais o mundo, mesmo que pareça numa voltagem menor. A alegria se multiplicou
uma vez que boa parte pertence, agora, também a ela.
Paula Braga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário