terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Vozes



Necessito de um escape para minha cabeça, algum tipo de válvula que, quando acionada, possa me esvaziar a mente... Mas, como não possuo nada do tipo, restam-me apenas as palavras, e é delas que farei uso.
Eis a minha pessoa em mais uma madrugada insone. Mas não se engane, caro leitor: não há silêncio.
Várias vozes me atormentam, vindas, creio eu, da minha memória. Algumas que escuto diariamente, outras que quase não recordo mais. Mas todas juntas, numa mistura louca que me embaralha os pensamentos. Quase todas clamam meu nome, nas mais díspares formas, de modo que me trazem à tona os momentos reais em que foram proferidas.
Dentre elas, há uma em especial. Esta se repete exaustivamente, como se me convidando a mergulhar nas suas profundezas. Não é sadio, porém, que eu aceite o seu convite tão tentador, pois as lembranças que lhe acompanham são tão maravilhosas que chega a ser doloroso o fato de terem partido.
Mas deixe-me ceder apenas mais uma vez...
O vento de abril é nossa única testemunha, e respiro fundo para esconder o acelerar do meu peito. Tão perto, tão avassaladoramente perto... Deita a cabeça no meu colo, e sinto meus dedos se enrolarem aos seus cabelos. Ambos sabemos que pertencemos um ao outro, mas nenhum de nós tem coragem de admitir. Passa-se o que me parece uma eternidade. De súbito, você levanta a cabeça, sorri e diz meu nome.
O vazio se contorce dentro de mim, trazendo-me à realidade. Cedi mais uma vez, e um arrepio de saudade percorre meu corpo. Doloroso, porém familiar.

A saudade vicia. E a lembrança de um amor também.


Paula Braga.

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