Ela apertou os lábios e sentiu a salinidade entre eles. Mirou seu reflexo no espelho, e o encontrou envergonhado pela própria fraqueza. Seu rosto estava banhado de lágrimas, o nariz vermelho e os olhos inchados, vazados de decepção.
Aquela não era a primeira vez, mas deveria ser a última.
Desviou os olhos da própria imagem e fitou o celular entre as mãos. Nenhuma chamada ou mensagem. Teve um ímpeto de ligar, mas para quem? E ainda que tivesse para quem telefonar, não o faria. Pouparia o ouvido alheio daquilo que sequer ela mesma aguentava.
Sua cabeça zunia de pensamentos desconexos e atordoantes. De súbito, arremessou o celular no espelho e viu seu reflexo se despedaçar. Gostou daquilo, de ver desordem e ruína para além do seu íntimo. O celular rachara e jazia a um canto, e os cacos do espelho se encontravam aos seus pés.
Apanhou um caco e brincou com ele entre os dedos, até que um filete de sangue lhe escorreu pela mão. Ela admirou o contraste entre o carmim do líquido e a brancura da sua pele. Desceu o caco pelo antebraço lentamente, como se o acariciasse, e viu outros filetes vermelhos lhe escorrerem tímidos pelo corpo. O sangue, tal qual o choro, trazia-lhe culpa e alívio, e lhe doía menos que as turbulências do coração.
Mais uma vez, os pensamentos levaram sua sanidade. Aquilo precisava de um fim, mas ela perdera o controle. Deslizou lentamente para o chão, gemendo baixinho. Perdera o controle. Agora o sangue lhe escorria pelas vestes, manchava o chão, levava-lhe a vida. Sucumbira. Fraquejara. Desistira.
Acabara.
Paula Braga.
Oi flor,
ResponderExcluirmuito lindo aqui, gostei muito.
Seguindo.
Retribui?
http://somdospassos.blogspot.com/
Bei-jos
Cacete, pude sentir o caco deslizando no meu braço.
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