sábado, 2 de outubro de 2010

A Ponte


A jovem estava sozinha no banco, e o céu anunciava  a chuva que não tardaria a cair. Eram poucas as pessoas que tinham a coragem de estar fora de casa com aquele tempo, mas a chuva, para ela, era uma dádiva. Sempre fora  considerada criança e ingênua por todos, e mesmo os seus pais estranhavam o fato de ela preferir passar as tardes no banco da praça em vez de ficar em casa vendo TV. Mas, com o tempo, eles se acostumaram, e ela pudera finalmente ficar em paz com a sua solidão. 
Ela não podia ser ingênua sem ser julgada. Não podia ser 'certinha' sem ser ridicularizada. Não podia confiar nas pessoas sem ser reprovada. Vivia em uma sociedade de risos superficiais, festas, bebidas, dinheiro, popularidade, garotos. Tudo isso a atordoava, e muitas vezes ela se via perdida de seus princípios. Era errado, ela sabia. Mas nem sempre ela conseguia se livrar das tentações. 
As primeiras gotas de chuva começaram a cair, tímidas e gélidas. Lentamente, a garota emergiu dos seus próprios pensamentos. Era quase noite, e a rua estava vazia. Ao longe, via-se a ponte da cidade. Ela queria ver o rio de perto, queria sentir junto a si a imensidão da natureza. 
Estava no alto da ponte quando a chuva aumentou. Toda aquela liberdade invadiu o seu espírito, e, como se estivesse esperando por aquele momento durante toda a vida, ela pulou. 
A queda, o vento, a água... e o fio da vida que a separava da plenitude se rompeu. Assim, tornou-se livre e pura. Finalmente, ela estava no seu lugar.

Paula Braga.

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